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A GENTE VAI CONTINUAR…
Não me pareceu uma grande ideia ir buscar por aquele preço um treinador de um clube que, neste momento, é claramente concorrente.
Imagem de destaque20 Abr 2020, 09:00

(Tenho pensado nos últimos dias que, quer se queira, quer não, um dos últimos refúgios do machismo em Portugal pode ser encontrado nos vários comentadores de bancada do futebol português. Mesmo quando o tom é de manifesto acinte, a verdade é que as “bocas” dirigidas às mulheres primam quase sempre por um tom ordinarote e que, quando se pretende ofender um homem, a insinuação é sempre que é homossexual. Há muita gente que ainda não aprendeu a distinguir discordâncias de ataques pessoais. Por via de regra, o objectivo é silenciar vozes discordantes mas a discriminação é óbvia. Se não funcionou na sociedade, não vejo porque motivo se possa achar que funcionará em clubes desportivos mas é aquilo com que se é confrontado amiúde. Talvez por isso, o que releva é que, nas palavras de Jorge Palma e principalmente quando o esforço vai no sentido de nos calar, “A gente vai continuar/ Enquanto houver estrada pra andar/ Enquanto houver ventos e mar/A gente não vai parar”. Vale para cada uma de nós e valerá sempre para o Sporting.  Vivam com isso.)

Numa altura em que os telejornais pouco vão além da COVID 19, o Sporting Clube de Portugal voltou a ser notícia, desta feita por conta de uma alegada falta de pagamento ao Sporting Clube de Braga por Rúben Amorim, sendo que, curiosamente, as faltas de pagamento ao Sporting Clube de Portugal encontram muito menor eco. Uma vez mais, a nossa imprensa é claramente pior que a dos demais, sendo que mesmo os actuais avençados parecem, a espaços e sempre que o assunto mete Jorge Mendes, tirar o tapete aos que se apressaram a defender.

Aqui chegados, importa que se assinale que, admitindo não ter os conhecimentos técnicos para aferir com o mínimo rigor do acerto da contratação de Rúben Amorim, não me pareceu uma grande ideia ir buscar por aquele preço um treinador de um clube que, neste momento, é claramente concorrente. Dito de outra forma, à data, o que pensei foi que estávamos a dar imenso dinheiro ao clube que, ironizando, apelido muitas vezes de Benfica B, por um profissional cujos créditos estavam longe serem pacíficos. Uma vez chegado, apesar das discordâncias, o mesmo tornou-se o meu treinador por mais que a ideia não me agrade (1).

Dito isto, desconhecendo os exactos contornos jurídicos do contrato, designadamente se existe alguma cláusula que permita a decisão que foi tomada, não posso conceder nas declarações de Zenha quanto a justificar um alegado incumprimento com um “acto de gestão”.  Ainda que o fosse, há casos em que tal não se confessa, principalmente quando essa confissão parece ter, também, como único objectivo o auto-elogio.

Por outro lado, a explicação avançada, designadamente quanto ao anúncio de que estaria “tudo controlado” parece ir contra os fundamentos legalmente previstos do lay off anunciado quanto aos trabalhadores do Sorting Clube de Portugal, aos quais expressei o meu agradecimento e que manterei sempre (2).

Feita esta nota, desconhecendo também o que foi alegado para se iniciar este procedimento, o que parece mais ou menos pacífico é que, pelo menos quanto à esmagadora maioria deles, não existiam grandes funções que lhes pudessem ser atribuídas.

Refira-se, também, que o mesmo, por impossibilidade legal, nunca poderia ser aplicado aos membros de órgãos sociais do Sporting Clube de Portugal. Contudo, se o fosse e caso o Sporting esteja a aplicar os limites máximos nas retribuições, isto é, não esteja a pagar mais do que os € 1905,00, o que desconheço, talvez não tivesse sido pior estender esses mesmos limites às remunerações pagas aos administradores, uma vez que, mesmo após o corte, auferem mais (3). É uma questão de exemplo e este não se demonstra apenas nos jornais.

Porém, nem tudo é mau e criticável.  Por um lado, os núcleos do Sporting continuam a dar mostras de vitalidade na generosidade e essas iniciativas não nos podem deixar indiferentes. Doutro,  o anúncio do regresso aos treinos, se feito em condições de total segurança, poderá, contudo, representar não apenas um vislumbre de normalidade como uma diminuição do âmbito de aplicação do dito lay off.  No final do dia, as direcções passam, os trabalhadores e os atletas ficam. E, também por isso, é nosso dever continuar. E continuaremos.

 

1 – As críticas à dita contratação podem ser da mais diversa ordem, sendo que me parece intelectualmente desonesto invocar-se a COVID 19, cujos exactos contornos, em especial quanto à paralisação total da actividade com que nos deparámos, à data eram inimagináveis.

2 – Não podendo deixar de fazer notar que, no meu artigo anterior, o qual pode ser lido aqui https://leonino.pt/opiniao/amor-em-tempos-de-colera-e-solidariedade-em-tempos-de-isolamento/ e como me pareceu óbvio, me referia aos atletas. Por seu turno, no meu artigo anterior não abrangi os funcionários da Loja Verde pela simples circunstância de os mesmos não serem trabalhadores do Sporting mas estarem, aparentemente e com dúvidas sobre se licitamente, contratados por uma empresa de outsourcing.  Em síntese, os mesmos que agora invocam um despedimento que, na prática e formalmente, não foi feito pelo Sporting são aqueles que, no passado, defenderam este tipo de contratações. Fica devidamente registada a incoerência, a somar a outras, daqueles para os quais parece valer tudo para atacar a Direcção, ainda que em claro prejuízo do Clube.

3- Limite esse de 1905,00€ e que corresponde ao máximo que a Segurança Social considera para efeitos de comparticipação, nada impedindo que o Empregador, seja ele qual for, mantenha o vencimento até então praticado, contrariamente ao que o Dr. Lúcio Correia, invocado especialista de Direito Desportivo, afirmou no passado sábado num programa televisivo.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.

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