Depois de uma desgraçada derrota no futebol este fim de semana, os meus pensamentos viram-se para um tema que aflorei, com muito pena minha, há duas semanas. Relembro a morte da Ana Oliveira, atleta do Sporting, que atravessava uma estrada de Lisboa, com a sua bicicleta pela mão. E faço-o, mais uma vez, com uma tristeza imensa e com a incompreensão da falta de voz que o Sporting e outros clubes relevantes da nossa praça tiveram quanto a este e outros temas similares. Não senti que os breves comentários de Ruben Amorim, e o voto de pesar no sítio de internet, tenham sido suficientes para calar esta revolta.
De facto, o Sporting, que tem o ciclismo como modalidade histórica, tendo sido também alvo de tragédias como o acidente e morte de Joaquim Agostinho, deveria ter participado nas cerimónias de luto da jovem atleta e devia ter assumido um papel de defesa dos milhares de ciclistas, profissionais e amadores, que veem a sua vida em risco nas estradas que foram agressivamente tomadas pelo automóvel.
Eu, hoje, assumo-me como ciclista. Regressei a esta modalidade por razões de saúde que me têm impedido de fazer atletismo como vinha fazendo. Depois de três maratonas, a ressaca física começa a fazer sentir-se e o conselho médico atirou-me para as bicicletas. E é nessa figura que, orgulhosamente, atravesso as ruas da minha cidade de Lisboa, como também já o fiz pelas ruas da Amadora, de Oeiras, de Cascais, de Sintra, de Odivelas ou de Loures, para já, e sinto a insegurança e a ameaça, por vezes bem verbalizada por parte de alguns automobilistas.
Aqui digo. As cidades são dos cidadãos. Não são dos seus carros. Tenho noção que os automóveis se tornaram dos maiores contribuintes líquidos de impostos neste país voraz dos mesmos. Mas o fim desta colonização tem de ter um fim. A civilização vai, necessariamente, ter de remeter as viaturas para os livros de história não tarda muito. E sonho com muitas mais ciclovias por toda a cidade, à imagem da que foi feita na Almirante Reis, e irá ser feita, quem sabe, em plena 2.ª Circular. A cidade aos seus cidadãos.
E o Sporting? Tem de ter um papel educador (que o tem). Tem de ter um papel de farol. Alumiando os caminhos e dando aos decisores políticos o conforto que muitas vezes necessitam para assumir ruturas importantes para o bem-estar dos seus concidadãos.
Quero um Sporting interventivo. Solidário. Sustentável. Defensor de ideais e princípios. Quero um Sporting Clube de Portugal a defender as Anas Oliveiras, os Joaquins Agostinhos, os ciclistas, os corredores, todos os desportistas que vivem nestas cidades que, e ainda agora se percebeu com a crise da COVID-19, são fundamentais para o equilíbrio do Homem com a Natureza. Quero sentir que o meu Clube me defende e a todos os seus. E lamento dizer que não o sinto. Muito por culpa dos seus dirigentes que vivem num afã de um futebol azedo. Que abdicaram de lutar por condições para as restantes modalidades. Que deixaram as mesmas presas aos acertos orçamentais e aos fins de competição, sem ais nem uis. Quero mais. Falta-me tanto.
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