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Histórias do Leão
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No início de 1917, o Sporting vivia um momento de viragem. As divergências internas em torno da liderança de José Alvalade, até então figura central e financiador das principais iniciativas do Clube, levaram a uma mudança profunda na gestão. A sua postura foi alvo de críticas de quem defendia um modelo mais coletivo e institucional.
O momento de rutura surgiu quando José Alvalade, entusiasmado com o projeto do Estádio de Lisboa, mandou desmontar a tribuna do campo do Sporting para reutilizar materiais na construção do novo recinto. Esta decisão gerou descontentamento generalizado entre os sócios e foi a faísca necessária para que um grupo opositor, liderado por Mário Pistacchini, Júlio de Araújo e Carlos Basílio de Oliveira, surgisse.
Coincidindo com a saída do Lisboa Football Club dos terrenos que ocupava no Campo Grande, devido a dificuldades financeiras, esse grupo aproveitou a oportunidade e avançou com o arrendamento do espaço. Desta forma, o Sporting transferiu-se para o número 412 do Campo Grande, libertando-se da influência direta de José Alvalade e entrando numa nova fase da sua história, mais autónoma e institucionalizada.
As novas instalações, apesar de construídas em madeira, tornaram-se referência nacional. O complexo incluía dois campos de ténis, um campo de futebol e um pavilhão-sede de dois andares. No rés-do-chão situavam-se os vestiários, arrecadações e moradias para funcionários. O primeiro andar era reservado às senhoras, salas de direção, jogos e eventos sociais. Com uma arquitetura cuidada e funcional, o espaço refletia o espírito moderno e multifacetado do Clube, respondendo às exigências desportivas, culturais e sociais da época.
O financiamento destas instalações ficou a cargo de Mário Pistacchini, que assumiu o pagamento dos 52.800 escudos com a condição de só ser reembolsado quando o Clube tivesse meios. Embora tivesse combinado dividir o custo com Adelino Ferros, este acabou por contribuir apenas com 400 escudos, que mais tarde foram doados ao Sporting. O projeto arquitetónico ficou nas mãos de António Couto, antigo jogador e arquiteto, que desenhou e dirigiu a obra de forma graciosa.
A inauguração oficial aconteceu a 1 de abril de 1917, com um jogo decisivo do Campeonato de Lisboa frente ao Benfica. Apesar da forte mobilização de adeptos e da importância da partida, o Sporting não conseguiu ir além de um empate sem golos, o que permitiu ao rival conquistar o título. A equipa alinhou com nomes como Ferrando Silva, Jorge Vieira, os irmãos Stromp e Artur José Pereira.
Este encontro acabaria também por marcar o adeus de António Stromp - jogador que participou na conquista de um título inédito diante do Benfica - dos relvados, devido a uma doença incurável na época: sífilis, que o levaria anos mais tarde. Já José Alvalade, desgastado pelas tensões internas e afastado do processo de mudança, acabou por distanciar-se do Clube. Ainda assim, a sua importância na fundação do Sporting seria eternamente reconhecida, dando nome aos futuros estádios e ocupando lugar de destaque na memória leonina.
Nascida no Congo, a atleta do Sporting é especialista em provas de velocidade e é dos nomes mais sonantes do atletismo português
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Lòrene Dorcas Bazolo nasceu a 4 de maio de 1984, na República Democrática do Congo e faz parte do atletismo do Sporting, participando nas provas de velocidade e chegou aos leões em 2015. Em Alvalade, integrou a equipa que venceu o Campeonato da Europa de Equipas em 2019.
A difícil infância e a chegada a Portugal
O seu percurso não foi fácil, ao perder a sua mãe aos 15 anos de idade, precisou de se mudar para o Benim. Quando muitos começam as suas atividades no atletismo na infância, Lòrene Bazolo iniciou a sua carreira apenas aos 24, representando o seu país de origem. Rapidamente se fez notar através do seu talento e sagrou-se recordista nacional do Congo nos 100 metros.
Bazolo tornou-se num símbolo nacional e foi porta-estandarte da comitiva olímpica da República Democrática do Congo, nos Jogos de 2012 em Londres. Não teve muito tempo a representar os congoleses: em 2013, chega a Portugal sob asilo político e ingressa no emblema do JOMA, mas ainda no mesmo ano foi chamada para se mudar para o atletismo do Sporting. A representar os leões, Lòrene Bazolo naturalizou-se portuguesa em 2016 e, já com a cidadania, lusitana, bateu o recorde português dos 100 metros que já perdurava desde 1997.
Nesse mesmo ano sagrou-se também campeã nacional dos 100 e dos 200 metros. Em 2019, fez parte da conquista leonina do Campeonato Europeu de Clubes, onde contribuiu com dois excelentes segundos lugares na competição, trazendo mais uma conquista europeia para o palmarés do Sporting.
Em 2021, teve um ano ocupado: Bazolo vai aos seus primeiros Jogos Olímpicos como atleta portuguesa, em Tóquio e, no meeting de La-Cheux-de-Fonds na Suíça, bateu novamente o seu recorde dos 100 e de 200 metros. Em 2023, foi campeã nacional nestas mesmas mesmas provas.
Mais recentemente, desde 2022 que Lòrene Bazolo se tem dedicado com maior afinco às provas de pista coberta. No ano seguinte, chegou às meias finais do Europeu, na prova dos 60 metros, e tornou-se também a recordista nacional, na mesma distância. Esta nova aposta numa corrida mais curta não impediu que a atleta cumprisse novamente os mínimos olímpicos para os Jogos de 2024, em Paris, onde ficou na quarta posição da primeira série de repescagens dos 200 metros.
Mas a vida de Lòrene Bazolo não se resume ao desporto. Mesmo com a vida atarefada de uma profissional de atletismo, a atleta tem no seu currículo uma licenciatura em administração de empresas e um mestrado em finanças, mostrando ser um grande exemplo para todos os atletas-estudantes.
Conhecido por desempenhar várias funções ao longo de cinco décadas pelo Clube, foi premiado pelo trabalho feito em Alvalade
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Nascido a 2 de maio de 1947, Mário Casquilho desde jovem aprendeu o que é a grandeza do Sporting, através do seu pai, António Casquilho, antigo diretor e sócio benemérito do Clube de Alvalade. Com esta herança, cedo se tornou Sócio e também ele se inseriu no seio dos leões.
Aos 32 anos, Mário Casquilho representou pela primeira vez o seu Clube de coração, ao assumir funções de diretor das secções de natação e pugilismo, em 1979. Nos anos seguintes, continuou a juntar cargos, quando se diretor do departamento de promoção e relações sociais, em 1980 e 1982, respetivamente.
Estes foram os seus primeiros cargos dentro do Sporting, mas muitos mais viriam para Casquilho, que na restante década de 1980 se tornou: diretor tesoureiro, secretário da direção, adjunto da presidência de João Rocha, membro do departamento da equipa principal de futebol, assessor da direção e membro contribuinte do Jornal Sporting.
Foi notável o amor de Mário Casquilho ao Clube e pelo Sporting mostrou ser um autêntico canivete suíço, ao continuar a amealhar cargos pelos leões. Durante a década de 1990 e 2000, tornou-se membro da comissão executiva do Grupo Stromp, responsável pela conceção do novo Museu Sporting para o novo Estádio José Alvalade, secretário da mesa da assembleia-geral e membro do Conselho Leonino.
O seu trabalho ao serviço do Clube foi incansável e, como tal, foi premiado por todo o seu esforço, ao receber o Prémio Joaquim Agostinho em 1997, Rugido de Leão em 1998 e em 2005 recebeu o Troféu Visconde de Alvalade e a Medalha de Serviços Relevantes do Grupo Cinquentenários.
Em 2006, Mário Casquilho recebeu a sua última grande honra pelo Clube, quando em assembleia-geral, foi aprovado em unanimidade o diploma de sócio de mérito do Sporting. Casquilho acabou por sair dos leões em 2013, no início da presidência de Bruno de Carvalho.
Ciclista que é, ainda hoje, considerado por muitos como o melhor atleta português desta modalidade, esteve 10 dias em coma antes de morrer
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Num tempo em que os heróis do ciclismo não usavam capacete e a assistência médica demorava horas a chegar, o fim da vida de Joaquim Agostinho deu-se como foi passado grande parte do seu tempo: sobre uma bicicleta. A 10 de maio de 1984, Portugal perdia aquele que é, ainda hoje, considerado por muitos o maior ciclista da sua história. A sua morte, trágica e evitável, selou o fim de uma carreira ímpar, marcada por superação, talento e um espírito inquebrantável.
A 30 de abril de 1984, disputava-se a 5.ª etapa da 10.ª Volta ao Algarve. Joaquim Agostinho, então com 41 anos e a vestir a camisola amarela pelo Sporting, pedalava rumo à meta em Quarteira quando um cão trespassou o percurso e o atirou ao chão. Faltavam apenas 300 metros para o final. Sem capacete, sofreu um hematoma epidural agudo. Ainda assim, voltou a montar a bicicleta com o auxílio de dois colegas de equipa e cruzou a meta, um gesto de resistência que comoveu o país.
O socorro, à época, era precário: Agostinho foi transportado de ambulância até Lisboa, num trajeto de 300 quilómetros, por estradas sinuosas e mal conservadas. Seria operado 10 horas após o acidente... tarde demais. Entrou em coma e nunca mais recuperou. Morreu 10 dias depois, a 10 de maio, precisamente no dia do seu 42.º aniversário.
Nascido em Brejenjas, freguesia de Silveira, no concelho de Torres Vedras, Joaquim Francisco Agostinho começou a pedalar profissionalmente já depois dos 25 anos, um início tardio por comparação com a maioria dos seus pares. Cumprido o serviço militar em Lourenço Marques (atual Maputo), o então lavrador saltou para os holofotes do ciclismo nacional com uma impressionante prestação na Volta a Portugal de 1968, que terminou em segundo lugar. No mesmo ano, brilhou nos Mundiais de Imola e venceu a Volta a São Paulo.
O seu talento não passou despercebido: Jean de Gribaldy, influente treinador francês, contratou-o para o circuito europeu. Ali nascia "Tinô", como passou a ser conhecido no pelotão internacional. Agostinho acumulou feitos de destaque: pódios na Volta à França, participações de alto nível na Vuelta a España e domínio absoluto em várias edições da Volta a Portugal. Apesar de sucessos internacionais, a sua ligação ao Sporting foi profunda e duradoura, regressando várias vezes à equipa leonina, incluindo no derradeiro capítulo da sua carreira, em 1984.
Muito mais do que os resultados, foi a garra e humildade de Agostinho que conquistaram o público. Descrito por Artur Lopes (responsável pelo ciclismo do Sporting) como "o melhor corredor português de todos os tempos", Joaquim Agostinho tornou-se símbolo de esforço, paixão e resistência. Ainda hoje, um busto seu ergue-se no lendário Alpe d’Huez, homenagem de França a um ciclista português que ousou sonhar alto.
A 1 de julho de 2014, três décadas após a sua morte, o Sporting homenageou-o com o prémio Leões Honoris Sporting, na categoria Saudade, durante a primeira Gala Honoris. Um tributo a uma figura que nunca deixou de pedalar na memória coletiva do desporto nacional.
O trágico episódio de 1984 destaca, também, a transformação do ciclismo nas últimas décadas. Hoje, o uso de capacete é obrigatório, e as provas contam com equipas médicas móveis, helicópteros de socorro e protocolos rigorosos de segurança. A história de Agostinho tornou-se, assim, também um alerta para a modernização urgente do desporto, uma mudança que, infelizmente, chegou tarde.