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SÓCIOS DO SPORTING – QUEM SOMOS?
Seremos assim tão diferentes dos outros e nomeadamente dos sócios dos nossos rivais mais diretos?
29 Ago 2022, 17:48

Devo referir desde já que não sou sociólogo nem tenho qualquer especialização em análise e conhecimento do comportamento humano individual ou em comunidade. Atrevo-me, portanto, a escrever estas considerações apenas na qualidade de sócio do Sporting Clube de Portugal há 73 anos, o que me tem permitido, ao longo destes longos anos, apreciar o comportamento dos nossos associados nas mais diversas ocasiões e circunstâncias, quer nos estádios de futebol, quer nos pavilhões onde atuam os nossos atletas, quer nas assembleias gerais e outras manifestações de fervor e aplauso ou de desacordo e crítica. E estes aspetos são reveladores de quem somos, como somos e como expressamos ou não o nosso amor ao clube dos nossos corações.

Os sócios do Sporting não são nem melhores, nem piores do que os sócios dos restantes clubes do nosso país. Talvez sejamos diferentes. Temos sido diferentes. Mas, ponho-me a pensar: seremos assim tão diferentes dos outros e nomeadamente dos sócios dos nossos rivais mais diretos? Não me quero excluir do que refiro sobre a massa anónima dos sócios do Sporting. Nem no que ela tem de louvável nem, muito menos, no que ela tem de menos bom e até, por vezes, de reprovável.

Tenho a perfeita noção da mudança dos tempos. As décadas de 50, 60, 70, etc., já lá vão. Nesses tempos os comportamentos eram diferentes e a paixão clubística e mesmo a rivalidade entre os chamados três grandes não era tão acentuadamente exercida e exteriorizada. Percebo, portanto, que a análise que faço não poderá ser comparativa. O passado interessa apenas como narrativa histórica e o presente é o que devemos ser capazes de entender e apreciar.

Hoje, os sócios do Sporting, e quero excluir aqui as chamadas claques organizadas porque são grupos com características muito específicas e particulares, têm comportamentos, enquanto agentes do fenómeno desportivo em geral, pouco uniformes e, por vezes, imprevisíveis e inexplicáveis. Se há sócios que “estão em todas” e entendem o clube de uma forma global na sua história, nas suas conquistas, nos seus valores, na sua gestão, na grandeza do seu ecletismo, na sua missão de formar atletas e Homens, honra lhes seja dada, outros há que tudo isto lhes passa ao lado e o importante é, apenas, ganhar o campeonato de futebol profissional masculino. Temos tido, infelizmente, alguns exemplos de como nos deixamos influenciar e, de um momento para o outro, alteramos completamente as nossas opções e os nossos compromissos com o que antes havíamos decidido. Assobiamos a equipa quando as coisas não estão a sair bem e aplaudimo-la de pé, durante largos minutos, no final de uma pesada derrota em nossa casa. Com que orgulho presenciei esse inesquecível momento! Um dia, participamos em massa em assembleias gerais ou eleitorais e nas seguintes não comparecemos para colaborar nas decisões coletivas. As contas consolidadas do Grupo Sporting, dos exercícios económicos 2019/2020 e 2020/2021, não foram ainda apresentadas aos sócios e arriscamo-nos a ter o Relatório de Contas do clube e da SAD de 2021/2022 aprovados sem as conhecermos e isso não faz qualquer sentido. Os sócios preocupam-se com isso? Enfim, nada disto constitui novidade para ninguém que esteja atento ao fenómeno das massas e não se esquive à autocrítica.  Estes diferentes comportamentos, de sentido oposto até, são, quanto a mim, inexplicáveis. Nas últimas assembleias gerais a que assisti, por exemplo, uma parte dos sócios caíram até na contestação ruidosa e mesmo insultuosa que não posso deixar de lamentar e repudiar. Mas, valha a verdade, estes episódios acontecem quando se percebem atropelos aos Estatutos do clube e até desvirtuamentos do que deve ser o respeito pelo Regimento das assembleias gerais, que são o tempo e o espaço onde se deve discutir, sempre com o civismo que deve ser nosso timbre, ouvindo outras versões, diversas opiniões e todas as sugestões até uma decisão final séria, esclarecida e democrática. A recentemente “inventada” metodologia do “entrar, votar e sair” (tanto quanto sei apenas utilizada no nosso clube), afasta seguramente os sócios mais interessados dos importantes assuntos do clube e da SAD, deixando assim quem nos governa à vontade para usar o poder a seu belo prazer. Estas práticas, para não falar nos códigos de barra nos boletins de voto (para controlar o quê? quem?), são contrárias ao que é habitual e normal, mas a nossa massa associativa, nós todos, portanto, vamos aceitando tudo, assobiamos para o lado como soe dizer-se, e o que mais nos importa são os resultados da nossa equipa de futebol. Como se explica que tendo assistido mais de 30.000 adeptos ao jogo com o Sevilha em Alvalade (Troféu Cinco Violinos), dos quais pelo menos 20.000 seriam sócios, e simultaneamente se tenham alheado da Assembleia Geral de apresentação, discussão e aprovação do Orçamento e Plano de Atividades para o ano seguinte? Faço notar que apenas votaram cerca de 2.500 sócios, isto é, cerca de 5% do universo leonino com esse direito. Não me conformo com tamanha irresponsabilidade e falta de respeito pelo nosso Sporting.

Volto a referir que não sou exemplo para ninguém e sou um sócio que, se calhar, poderia e deveria ter dado e dar ainda muito ao meu clube do coração. Em presenças ativas no estádio, no pavilhão João Rocha e nas assembleias gerais do clube e da SAD. A única desculpa que invoco é a de ter completado 81 anos de idade. E a idade, meus amigos, não perdoa. Mas, todavia, faço ainda questão de me reunir regularmente com um grupo de sportinguistas que amam e vivem intensamente o Sporting, para pensarmos e discutirmos os assuntos do clube, os seus problemas, as decisões tomadas, aplaudindo o que é de aplaudir, expressando desacordo sobre o que nos parece menos bem, todos nós, e já somos muitos, unidos naquele lema que me lembro de ver escrito na nossa sede da Rua do Passadiço, Hoje e Sempre Sporting.

Hoje, após este início complicado da época, devemos estar unidos na análise crítica e séria das últimas decisões da estrutura e não permitir que, como vem sendo hábito, sejamos ignorados e esquecidos nas informações a que temos inalienável direito.

Ser apenas sócio de uma equipa de futebol chamada Sporting? NÃO, OBRIGADO.

Não foi isso que me ensinaram a ver o Sporting Clube de Portugal em 1949, no dia em que me fiz sócio deste enorme e lindo clube que traz na lapela com orgulho o nome do nosso país.

Saudações Leoninas.

Sócio número 232 do Sporting

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