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Histórias do Leão
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A invasão à Academia de Alcochete foi, provavelmente, o episódio mais negro da longa história do Sporting, quando no dia 15 de maio de 2018, cerca de quarenta indivíduos entraram no centro de estágios do Clube e espalharam terror e violência dirigidos aos jogadores, treinadores e dirigentes do emblema ao qual são afetos.
O Sporting deslocou-se ao terreno do Marítimo em encontro da última jornada do campeonato, no dia 13 de maio, dependendo apenas de si para assegurar o segundo lugar e a Liga dos Campeões da próxima temporada. A partida foi extremamente negativa e não podia ter terminado da pior forma. Já em tempo de compensação, Rui Patrício deixou passar uma remate que não apresentava nenhum perigo para a sua baliza. Lentamente, a bola entrou e a equipa madeirense venceu o jogo por 2-1.
O desagrado das bancadas sentiu-se logo após o apito final no Estádio dos Barreiros. Os adeptos mostraram um alto tom de agressividade para com a equipa do Sporting e, conhecido por não virar a cara à luta, Marcos Acuña foi tirar justificações aos mesmos, o que apenas agravou o estado dos ‘ultras’. Mesmo fora do estádio, o clima manteve-se: os jogadores e técnicos leoninos foram insultados, de forma violenta, na sua viagem para o aeroporto e também na sua chegada ao Estádio José Alvalade.
O Sporting regressou aos trabalhos na terça-feira, dia 15 de maio, e enquanto decorriam os preparativos para iniciar uma sessão de treinos, um grupo de cerca de 40 adeptos insatisfeitos tomou a Academia de Alcochete de assalto, agredindo jogadores e treinadores com uma panóplia de objetos como cintos ou pirotecnia, deixando os balneários como um autêntico cenário de guerra.
Muitos foram os visados deste ataque, mas talvez um dos maiores casos de destaque tenha sido o de Bas Dost. O avançado holandês foi atirado ao chão e agredido com pontapés e cintos na cabeça, para além de ter ficado com ferimentos nas pernas. No final deste episódio, 23 dos atacantes foram detidos nas imediações da Academia, enquanto tentavam fugir.
A equipa do Sporting ainda jogou a final da Taça de Portugal, com muitos atletas a serem o rosto da violência: Bas Dost jogou com um penso na cabeça e Jorge Jesus estava maquilhado, visto ainda ter marcas no rosto, depois de ter sido agredido à cabeçada. Quando o árbitro apitou, os leões saíram derrotados do Estádio do Jamor por 2-1, iniciando-se assim, um período de rescisões com justa causa.
Algum tempo passou desde a final perdida e, no dia 1 de junho, Rui Patrício foi o primeiro jogador a rescindir com o Sporting alegando justa causa, juntando-se a ele nomes como Daniel Podence, Gelson Martins, William Carvalho, Rafael Leão e Rúben Ribeiro. Outros jogadores como Rodrigo Battaglia, Bruno Fernandes e Bas Dost também rescindiram, mas acabaram por acertar, mais tarde, a permanência no Clube de Alvalade.
Já no campo da justiça, o então presidente Bruno de Carvalho foi detido e investigado por ser, alegadamente, o autor moral do ataque, sendo indicado por 56 crimes e constituído arguido. O julgamento apenas começou em novembro do mesmo ano e, no final do mesmo, o dirigente máximo do Sporting foi ilibado das suas acusações, Dos outros 44 indivíduos julgados, apenas nove foram condenados a prisão, com três a serem punidos com multa. Os restantes 29 ficaram com pena suspensa.
Após vencer o Salgueiros por 4-0, o Clube de Alvalade venceu o seu 21.º Campeonato Nacional após um jejum de 18 anos, o que tornou as celebrações mais efusivas
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A festa do 21.º Campeonato Nacional do palmarés do Sporting foi inesquecível. Após a deslocação dos leões à cidade do Porto para derrotar o Salgueiros por 4-0, no dia 14 de maio de 2000, o clima em Lisboa era de euforia, com os Sportinguistas a tomarem as ruas.
Os Adeptos não esquecem o ambiente de festa que se viveu na cidade lisboeta, após o apito final do árbitro no Estádio Vidal Pinheiro e, ao que parece, os antigos jogadores do Sporting também não, em declarações feitas por alguns dos campeões ao jornal Record.
“A viagem parecia que eram só pessoas a apitar e adeptos eufóricos. Foi uma festa até chegar ao Estádio José Alvalade. Foi uma coisa que até hoje me lembro e fico arrepiado. Sinto-me como se tivesse sido ontem”, revelou o antigo capitão de equipa. Para terminar, Iordanov declarou o seu amor ao Clube: “Posso sair do Sporting, mas o Sporting nunca sai do meu coração”.
O central brasileiro apenas chegou no decorrer da temporada, mas isso não manchou de nenhuma forma o sentimento do defesa: "A festa foi marcante, mas só tive a real noção do que atingimos no dia seguinte, quando estava em casa a beber café e liguei a televisão. Em todos os canais passavam reportagens de todos os cantos de Portugal e do estrangeiro foi nesse momento que interiorizei a importância do título que alcançámos... aquelas festas dos adeptos foram momentos que marcaram e recordo até hoje”.
Com a chegada de Peter Schmeichel, o guardião luso ficou em segundo na corrida à baliza do Sporting e recordou a felicidade do seu companheiro dinamarquês: “Memórias? Guardo sempre a imagem de ver um Peter Schmeichel que tinha sido campeão europeu e ver a alegria dele. E o que significou para ele ser campeão no Sporting! Parecia um menino. Isso marcou-me. Sempre fui próximo dele e sabia da vontade que tinha em ser campeão”.
O espanhol foi suplente na partida contra o Salgueiros, mas isso não impediu o jogador de sentir o sabor da vitória tanto quanto os seus companheiros de equipa e recordou ainda a receção da equipa no estádio: “Alvalade estava a rebentar. Chamavam um por um aos jogadores e estávamos tão ansiosos que não deixámos que o speaker chamasse todos e estávamos impacientes. Entrámos todos de uma só vez. O pessoal todo a entrar no relvado. E quando colocámos o cachecol na estátua”.
O antigo jogador argentino do Sporting revelou que esteve até bastante calmo no Estádio Vidal Pinheiro, mas quando a equipa regressou ao balneário para celebrar, a história foi diferente: “O que me marcou? Foi tudo! O festejo no balneário com o presidente Roquette a celebrar muito e a equipa técnica. A partir daí, já sabia que o caminho ia ser longo e estava completo. Íamos muito devagar, porque era muita gente no caminho. Estava uma loucura enorme. Nunca tinha visto algo assim”.
Antigo treinador dos leões comandou a turma verde e branca na conquista que pôs fim a um longo jejum de 18 anos sem títulos nacionais
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O Sporting entrava em campo no Estádio Vidal Pinheiro, a 14 de maio de 2000, com o peso de 18 anos às costas. Jogava-se a última jornada do Campeonato Nacional e os leões estavam a um passo de quebrar quase duas décadas de frustrações e sem títulos nacionais. Com 74 pontos, um à frente do Porto, só a vitória interessava frente ao Salgueiros, que lutava pela permanência. À frente do Clube de Alvalade estava Augusto Inácio, o homem que conduziria o mesmo a um momento histórico. Um quarto de século depois, o treinador reviveu essas emoções numa nova entrevista concedida ao jornal A Bola.
Augusto Inácio: "O pensamento de ser campeão estava na minha cabeça em todos os momentos"
“Foi inesquecível! Muitos nervos pelo peso de 18 anos sem conseguirmos ganhar. Muitos nervos de toda a gente. Nossos, staff, clube, jogadores, adeptos... Na rua, nos restaurantes, em todo o lado que encontrava adeptos só me diziam: 'por favor mister, não podemos estar sem ganhar, temos de ganhar desta vez'”, começou por partilhar Inácio, que prosseguiu.
“O pensamento de ser campeão estava na minha cabeça em todos os momentos. Era a prioridade das prioridades. Só dependíamos de nós, mas o Salgueiros precisava de pontos. Nunca envelheci tanto como naquela semana. Tive de disfarçar tudo junto dos jogadores. Agora posso admitir: os treinadores nem sempre mostram o que sentem”, acrescentou o agora comentador desportivo.
Naquela equipa do Sporting, destacavam-se nomes como Peter Schmeichel, André Cruz, Rui Jorge, Pedro Barbosa ou Beto Acosta. Uma mistura de talento, experiência e fome de títulos e, para Inácio, a vitória frente ao Porto por 2-0, um mês antes, em Alvalade, foi o verdadeiro ponto de viragem da época.
“Acreditava muito em nós. O jogo decisivo foi esse contra o Porto. Mas não festejei muito os golos. Quis transmitir ao grupo que era normal ganharmos jogos assim. Sabia que não era, mas era melhor que eles acreditassem nisso. Quando estava sozinho, sofria muito. Refugiei-me em casa, nem ouvia o que a minha mulher e filhos diziam. A pressão era enorme”, confessa agora.
Augusto Inácio: "Apelei à calma e à confiança. Eu acreditava mesmo neles
Já sobre a preparação, o antigo treinador aproveitou para fazer algumas revelações que envolvem o estágio no hotel escolhido: “Houve quem achasse que não devíamos ir, com medo de não controlarmos o que os jogadores comiam ou bebiam. Mas mantivemos tudo. Levámos o nosso cozinheiro. Só bebíamos de garrafas abertas por nós. Alugámos um piso inteiro do hotel e pusemos pessoas a vigiar o corredor. Até as chamadas para os quartos estavam proibidas”.
O início do jogo, no entanto, refletiu o nervosismo acumulado. O Sporting entrou tenso, sem conseguir marcar na primeira parte. No balneário, Inácio optou por serenidade e confiança. “Não entrei em stress. Falei só três minutos. Apelei à calma e à confiança. Eu acreditava mesmo neles", relatou.
O desbloqueio surgiu logo após o intervalo. André Cruz, aos 47 minutos, fez o primeiro. Depois, Ayew, Duscher e novamente André Cruz transformaram a tensão em euforia. O Sporting venceu por 4-0 e pôs fim ao longo jejum de títulos nacionais, momento que Inácio compara com a atualidade.
Às portas de mais uma possível consagração, também na última jornada, Inácio vê paralelismos com 2000. O atual Sporting, liderado por Rui Borges, poderá selar o título frente ao Vitória de Guimarães, o que leva o antigo treinador a dizer: "A pressão vai ser grande, mas acredito que o Sporting vai ser campeão. Fiquei admirado com o jogo na Luz, mas muito orgulhoso com a atitude da equipa. Sem o Hjulmand vai ser mais difícil, mas se mantiverem a calma, vão conseguir. A ansiedade é natural. Faz parte de quem está a lutar por algo grande".
Jogador destacado na história recente dos leões revive um dos remates mais marcantes na carreira, quando atravessava tempos complicados
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Um dos momentos mais marcantes de Nani no Sporting foi o seu quarto golo no campeonato 2014/2015, frente ao Gil Vicente, depois de regressar ao clube do coração. O histórico craque português recordou tudo numa nova entrevista para o canal do Youtube ‘Bola lá’.
O Sporting defrontava a equipa de Barcelos para a 22.ª jornada do campeonato 2014/2015. Tanaka já tinha feito o 1-0 aos 52’, mas o melhor momento do jogo acontece aos 69’, quando Nani espeta um 'tiro' fora de área, que entra diretamente na baliza do Gil Vicente. O resultado ficava 2-0 em Alvalade, mas mais importante do que isso, o craque português cai no chão em lágrimas.
“Estava a ser criticado. Mas as pessoas não sabiam que eu tinha vindo de três lesões e, mesmo assim, estava a jogar. E ficava frustrado porque eram lesões que apareciam poucos dias antes do jogo, mesmo assim eu jogava, mas ficava muito frustrado, tanto que naquele jogo que marquei golo estava todo remendado. Mas consegui superar, naquele dia marquei aquele golo e foi a emoção”, explicou Nani.
Para além das lesões, Nani foi criticado pelos adeptos por não mostrar bom desempenho dentro das quatro linhas, mas estes nunca perceberam o porquê. Foi injustamente criticado, num momento em que tinha decidido regressar ao seu clube de coração, abdicando de outras propostas milionárias.
O craque explicou o momento difícil que passou no Sporting: “Nós, jogadores, passamos por muitas coisas que só nós é que sabemos, muitas vezes jogamos com dores. Muitas vezes recuperamos o mínimo para poder participar no jogo, mas não estamos bem. E as pessoas que estão lá fora não conseguem perceber que estamos lesionados. Eu estava a passar uma fase complicada.”
O jogador vinha do Manchester United para ser titular nos leões e tentar ajudar a levantar o título de campeão nacional outra vez, algo que não aconteceu. Ainda assim, na altura com Marco Silva no comando técnico, o Sporting conquistou a Taça de Portugal em 2014/2015.
Somadas todas as épocas em que Nani esteve ao serviço dos leões, os números são estes: 141 jogos, 33 golos e 24 assistências. O craque português é um dos jogadores mais marcantes na história recente do Clube, contando com uma história de paixão leonina recheada de regressos.