summary_large_image
ALCOCHETE NUNCA MAIS OU ATÉ QUANDO?
A Sporting SAD "recebeu" cerca de 300 milhões de euros, em pouco mais de 12 meses.
Imagem de destaque20 Jan 2020, 08:45

Tendo já decorrido mais de ano e meio sobre o episódio infeliz de Alcochete, que desencadeou toda uma sequência cataclítica para a instituição, urge dizer, com clareza, quanto tempo mais tal episódio servirá de atenuante para o futuro do Sporting.

Acredito, com toda a sinceridade, que o pós-Alcochete, perante o que é público, seria sempre um fardo para quem “herdasse” a direcção do clube e da SAD.

Toda a perspectiva de revitalização do clube, mediante complexas operações financeiras, que estavam na forja, caiu por terra – pelo menos, com o imediatismo projectado.

Tal circunstância, aliada à calendarização do empréstimo obrigacionista, pagamentos a credores e a perda de rendimentos potenciais provenientes de transferência de atletas (por força das rescisões), por certo não fazia adivinhar um cenário idílico, para quem assumisse a nau, tendo em conta que o calendário financeiro deveria estar pensado em função de uma estratégia que dependia da não destituição do anterior CD. Fica, portanto, por perceber de que forma o superior interesse da instituição foi defendido, à luz dos acontecimentos que se seguiram.

Ainda assim, se dimensionarmos os acordos alcançados com os atletas rescisores – que permitiram obviar ao processo litigioso, com vista ao ressarcimento pelas respectivas saídas – e o contrato de direitos de imagem e televisivos, a herança seria sempre menos pesada do que já foi noutros tempos.

O próprio actual Presidente, no tempo de campanha eleitoral, afirmou não estar preocupado com o cenário dramático, anunciado por outro candidato, precisamente porque existia (e existe) um chorudo contrato de direitos televisivos.

Desde a saída de Bruno de Carvalho (e respectiva equipa dirigente) do comando do Clube e da SAD, até ao início da presente temporada, foram registadas transferências (onde se incluem os acordos com os clubes dos atletas que terminaram os vínculos com a SAD) de valor superior a 120 milhões de euros (creio que o valor correcto até poderá situar-se nos 130 milhões de euros). Some-se a esse valor, o influxo proveniente do empréstimo obrigacionista de, creio, 26 milhões de euros e o acordo com o fundo Apollo, que permitiu disponibilizar cerca de 65 milhões de euros.

Com as receitas declaradas de 75 milhões de euros, com referência à temporada 2018/19, podemos dizer que, contabilisticamente, a Sporting SAD “recebeu” cerca de 300 milhões de euros, em pouco mais de 12 meses.

Da análise dos ROC’s, de anos anteriores, nada faz pensar que a gestão foi de molde a carecer de liquidez na ordem dos 300 milhões de euros, no espaço de apenas um ano.

Mais do que acusações, o que se deve é pedir explicações, a bem da transparência como meio de, finalmente, se iniciar um processo de pacificação e união do substracto leonino. E tal desiderato só pode ser alcançado mediante bom senso, verdade, competência e sem o manto (incompreensivelmente) protector do sucedido em Alcochete. E se é certo que Alcochete não é proferido expressamente, sempre se fica com a impressão de para lá se remeter, quando se menciona uma “pesada herança”, como atenuante para o que aconteceu, desde então. Só não devemos esquecer-nos de que as boas decisões, por norma, não carecem de atenuante de qualquer espécie.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

  Comentários