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O ESTADO DA UNIÃO
Convenhamos que, abrir uma frente de batalha, nesta altura, é algo que compromete a “intenção” de unir o Sporting.
Imagem de destaque27 Fev 2020, 08:00

Após dois jogos em que, de forma consecutiva, a equipa conseguiu vencer, seria de esperar alguma paz para o Presidente Dr. Frederico Varandas e seus pares. Mas como o Sporting é um clube “diferente”, prossegue a actual direcção com os seus inábeis esforços para unir os associados em torno do seu projecto para o Clube.

Dois jogos realizados no nosso estádio, duas vitórias e duas ocasiões em que os adeptos do topo Sul tiveram que descalçar os sapatos. Não bastando já o clima de contestação à direcção, por parte de uma franja significativa de associados, as medidas levadas a cabo, sob o pretexto da segurança, não podem deixar de ser vistas como uma forma de acicatar os já descontentes associados.

Convenhamos que, abrir uma frente de batalha, nesta altura, é algo que compromete a “intenção” de unir o Sporting, não escapando idosos, nem crianças a este peculiar escrutínio a todos os que desejam apreciar o espectáculo na bancada do topo Sul.

O Sporting tem demasiadas feridas abertas, que propiciam uma enorme divisão entre os seus adeptos e associados. E são tantas e tão profundas, que o contexto actual se pode confundir com um falso sentimento de irreconciabilidade. Por muitas voltas que queiramos dar, não há como fugir disto: a união entre os adeptos e associados do Sporting, em torno do projecto de liderança (seja ele qual for), é transitório e depende da competência das pessoas que liderem o clube.

Podemos ouvir um qualquer Presidente dizer que tem esta ou aquela intenção, que o seu discurso só será capaz de gerar empatia se as suas acções forem dotadas de bom senso e competência, com resultados a condizer.

Não ajuda a tal desiderato uma agenda onde conste, como um importante ponto na ordem de trabalhos, uma intenção de ajuste de contas com o passado recente.

As contradições de alguns titulares dos Órgãos Sociais (entre mandatos) não são coerentes com o desígnio de união apregoado.

A recente argumentação para a rejeição da marcação da Assembleia Geral Extraordinária, ainda que possa ter tido uma intenção de afirmar um princípio de coesão institucional, pode muito bem ter um efeito contrário, se as pessoas notarem que uma mesma realidade pode ter interpretações distintas, consoante o que é aparentemente conveniente.

As dúvidas insanáveis invocadas, relacionadas com os textos apresentados durante o processo de recolha de assinaturas, fazem-nos invocar o sucedido em 2018.

O Dr. Luís Gestas trouxe essa questão a público, pondo a nu as diferenças de entendimento sobre questões muito semelhantes (para não dizer coincidentes) entre os elementos da MAG, em dois mandatos distintos.

À luz da interpretação que a actual MAG apresentou, é justo dizer-se que a AGE de 2018, que levou à destituição do CD, muito provavelmente foi ilegal. Ou, então, tendo a mencionada AGE sido legal, tal tornaria ilegítima a decisão da actual MAG. O que me parece de difícil aceitação é que uma mesma coisa possa ser legal e ilegal, ao mesmo tempo.

Sendo o PMAG um jurista de méritos muito justamente reconhecidos e, também, alguém que já teve oportunidade de se pronunciar sobre alguns pontos dos estatutos que, na sua opinião, são ilegais, seria absolutamente interessante saber que opinião tem sobre a legalidade da AGE de 2018, mesmo sabendo-se que foi um apoiante da destituição. Quero crer que o facto de pretender a destituição do CD, então em funções, não lhe tolheria a sua capacidade jurídica para apreciar a legalidade desse acto.

Mas mais do que a manifestação de uma opinião, que seria sempre interessante, como é apanágio nas intervenções do Dr. Rogério Alves, tal acto poderia ajudar a apaziguar um pouco o espírito dos contestatários à sua decisão de recusar a realização da AGE. Isto porque, por um lado, ao defender a coerência de opinião, estaria a reforçar a justiça da sua decisão e, por outro, tal intervenção ajudaria a repor a confiança na sua independência, enquanto garante dos direitos dos associados. E o Sporting precisa de alguém que, realmente, recupere esse activo de confiança, já que a vivência desportiva não tem alimentado a fé, nem o fervor sportinguista.

O Dr. Rogério Alves é, com toda a certeza, um dos mais ilustres sportinguistas, cuja habilidade para exercer uma espécie de magistratura de influência, em benefício do Clube, é amplamente reconhecida. Seria uma pena ver alguém com um capital reputacional tão grande, deixar-se cair numa malha de contradições e de verdades escondidas, que o levassem a perder prestígio entre os seus consócios, em notório prejuízo da união entre sportinguistas, que tão necessária é para a reafirmação do Clube como potência desportiva “de facto”.

O Sporting precisa de se reconciliar consigo mesmo e tem o PMAG nas mãos a possibilidade de ajudar a esse desígnio, pela coerência, pela justiça e pela verdade das suas intervenções.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.

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