
Receba, em primeira mão, as principais notícias do Leonino no seu WhatsApp!
Histórias do Leão
|
Os Adeptos do Sporting não esquecem o dia 22 de abril de 2024 como aquele em que Ruben Amorim viajou, sem que nada o fizesse prever, rumo a Londres, numa altura em que estava a ser associado a vários clubes ingleses. Acompanhado do empresário Raúl Costa, o então técnico dos leões quis saber que oferta tinha o West Ham para lhe fazer, mas longe estava de saber do impacto desta decisão.
Talvez por considerar que a viagem passaria despercebida, Amorim apanhou o avião rumo à capital inglesa e, só no regresso a Lisboa, se cruzou com os jornalistas, que já aguardavam pela sua chegada. Aproveitando a folga concedida ao plantel, o técnico quis, também ele, tratar dos seus assuntos, mas acabou por indignar os Sócios que com ele contavam.
O Sporting, recorde-se, vivia uma fase decisiva da temporada. Apenas alguns dias depois, estava agendado um Clássico de extrema importância diante do Porto, no Estádio do Dragão, e a viagem a Londres, que ainda ainda faltava explicar, aumentava a pressão sobre Amorim, que estava habituado a viver em Alvalade com o carinho dos Adeptos.
Na conferência de Imprensa de antevisão ao encontro com os azuis e brancos, Ruben Amorim começou por falar do 'elefante na sala' e justificou, desde logo, a sua ida surpresa a Inglaterra. "A primeira coisa é dizer é que o Clube tinha conhecimento da minha viagem. É importante e muda o contexto", começou por dizer, antes mesmo de se mostrar arrependido.
"Obviamente que foi um erro a minha viagem, o timing foi completamente desajustado, não me pareceu na altura. Foi desajustado, ainda para mais quando sou tão exigente com os meus jogadores... Eu por muito menos já retirei jogadores do plantel. Foi uma falha minha, tenho de assumir e viver com isso", completou o treinador que, ainda assim, garantiu ter dado "explicações aos jogadores e ao staff", pedindo ainda desculpas "aos Sportinguistas, ao staff" e aos jogadores.
O que nunca iremos saber é que impacto teve, de facto, esta situação no balneário. O plantel do Sporting, no dia seguinte à conferência, entrou em campo no Dragão, em jogo válido para a 31.ª jornada do campeonato nacional, e regressou a Lisboa com apenas um ponto, em virtude do empate a dois golos com o Porto. Os tentos verdes e brancos haviam sido apontados, ambos, por Viktor Gyokeres.
A verdade é que o Sporting faria um resto de temporada irrepreensível para o campeonato, tanto que acabou por se confirmar a conquista do campeonato a duas jornadas do fim. A 4 de maio, os comandados de Amorim bateram o Portimonense, por 3-0, e o Benfica, apenas um dia depois, voltou a deslizar, perdendo com o Famalicão, por 2-0, entregando o título ao Clube de Alvalade.
Ruben Amorim voltou a viajar para Inglaterra, desta vez em definitivo, em novembro, altura em que foi oficializado como novo treinador do Manchester United. Depois de prometer que seria bicampeão em Alvalade, o treinador aceitou o convite dos red devils, que à época considerou ser irrecusável, e acabou sucedido por João Pereira, cuja passagem pela equipa principal foi tudo menos de sonho.
Figura polarizante dentro do seio do Clube nunca teve receio das opiniões de fora e mostrou-se sempre implacável em público
|
Nascido a 17 de abril de 1947, José Dias Ferreira é advogado de profissão e esteve sempre dentro das vários assuntos do Sporting. É o sócio n.º 2481 e conta já com 62 anos como associado do Clube, isto para não falar das diferentes funções representadas no emblema leonino, das várias candidaturas à presidência e ainda participações em programas televisivos.
Dias Ferreira estreou-se em funções em Alvalade no verão de 1980, como dirigente integrante do secretariado-geral de João Rocha, mas desempenhou o cargo durante pouco tempo. O advogado entrou em rota de colisão com o “eterno presidente” e saiu do Clube após o desentendimento, tendo sido chamado a regressar pela nova direção do mesmo.
As eleições de 1984 ditaram a continuidade da presidência de João Rocha e com isto surge novo convite para Dias Ferreira. O ex-dirigente voltou ao Sporting, mas desta vez mais acima na hierarquia da direção do Clube: seria o novo vice-presidente do emblema de Alvalade e continuou no cargo após a saída de Rocha, com a chegada de Amaro de Freitas à presidência leonina. Nesta nova Direção, assumiu também a secção do futebol profissional.
Com a chegada da década de 1990, Dias Ferreira foi assessor da Sporting SAD na presidência de José Roquette, mas acabou por sair por um motivo curioso: recusou-se a ser pago, quando a Direção impunha que o fosse. Talvez este tenha sido o motivo pelo qual começou a ser ainda mais reconhecido pelo público fora do seio Sportinguista.
Dias Ferreira iniciou então a sua carreira como comentador e aparecia assim no televisor das casas portuguesas sendo parte integrante de um painel de comentadores desportivos por vários canais informativos, em 1995. Foi protagonista em famosos momentos da televisão portuguesa, como quando teve uma troca de acusações com o então presidente do Sporting Pedro Santana Lopes, ou quando, anos mais tarde, abandonou o estúdio em direto o estúdio do programa 'Dia Seguinte', após um desentendimento com o moderador do painel.
No ano de 2005, o Sporting encontrou-se numa crise de resultados que resultou na demissão do então presidente, António Dias da Cunha, e seriam convocadas novas eleições para 2006. Dias Ferreira chegou mesmo a ponderar chegar-se à frente com uma candidatura, mas o seu plano acabou por não se materializar. Mas a verdade é que não teve de esperar muito para nova oportunidade: o vencedor das eleições de 2006, Filipe Soares Franco, decidiu não se recandidatar e estava aberta a porta para novo presidente. De novo, Dias Ferreira considera uma candidatura para as eleições de 2009, mas também não foi em frente na mesma e tornou-se parte integrante da lista de José Eduardo Bettencourt, como Presidente da Mesa de Assembleia-Geral.
A verdade é que a década de 2000 não foi fácil para o Sporting nem para os seus Adeptos. Existiam graves crises desportivas e económicas em Alvalade e, em 2011, a direção de José Eduardo Bettencourt demitiu-se. Com eleições marcadas ainda no mesmo ano, Dias Ferreira oficializa, finalmente, a sua candidatura à presidência do Clube leonino e, numa das eleições mais polémicas da história verde e branca, o advogado acabou em terceiro, com 16,54% dos votos.
2011 não seria a última candidatura de Dias Ferreira à presidência do Sporting. Num dos períodos mais frágeis do Clube, as eleições de 2018 foram das mais importantes da história do Clube de Alvalade e o advogado, de novo, constava nos boletins. A verdade é que a sua percentagem de voto apenas caiu e o advogado teve apenas 2,35% dos votos totais. O vencedor acabou por ser o atual presidente leonino, Frederico Varandas.
Dias Ferreira nunca foi uma figura consensual dentro do Clube. O advogado é uma figura polarizante do seio Sportinguista, mas nunca teve receio em dar a sua opinião honesta sobre os assuntos desportivos ou internos do Sporting e continua a manifestá-la, nos dias de hoje, em programas de comentário em canais televisivos.
Fez parte de uma época áurea dos leões no atletismo e defendeu as cores do emblema de Alvalade com grande dedicação e talento
|
No cenário lisboeta, também dominou: conquistou quatro títulos de campeão regional (1959 a 1962), sempre com a elegância de quem alia técnica, resistência e inteligência tática. A sua trajetória de glória arrancou verdadeiramente em setembro de 1958, quando, aos 22 anos, destronou o anterior recordista nacional dos 3000m obstáculos, o seu colega de equipa Manuel Faria, numa clara passagem simbólica de testemunho. Joaquim não se limitou a conquistar o recorde: viria a melhorá-lo em cinco ocasiões, fixando-o, em dezembro de 1962, em 9 minutos, 1 segundo e 4 décimas, marca que o manteve no topo da elite nacional.
Ainda nesse ano, integrou a seleção nacional no prestigiante Crosse das Nações, onde Portugal alcançou um honroso 4.º lugar. Ferreira, com um 41.º posto individual, foi o melhor luso em prova, o mais destacado nas suas três participações nesta competição. Dois anos depois, em 1960, voltou a brilhar no corta-mato, vencendo o Campeonato Regional e conquistando também o título nacional, sucedendo ao já lendário Manuel Faria, que vencera as cinco edições anteriores.
1960 foi, sem dúvida, o ponto alto da carreira de Joaquim Ferreira. Além de consolidar o seu domínio interno nos 3000m obstáculos, conquistou o passaporte para os Jogos Olímpicos de Roma. Apesar de ter ficado em 11.º lugar na sua eliminatória, o feito de representar Portugal nos palcos maiores do desporto mundial já era, por si só, histórico.
Nesse mesmo ano participou nos Jogos Ibero-Americanos em Santiago do Chile, terminando em 6.º lugar na sua prova de eleição. Dois anos mais tarde, em Madrid, regressou à competição ibero-americana, desta vez com brilho renovado: conquistou a medalha de prata nos 1500 metros, apenas atrás de Manuel de Oliveira.
Também em 1962, representou Portugal nos Campeonatos da Europa em Belgrado, terminando em 9.º na sua série eliminatória dos 3000m obstáculos. Apesar da colocação modesta, saiu da capital jugoslava com o novo recorde nacional: 9m01,8s, marca que, no mês seguinte, ainda viria a melhorar.
A carreira de Joaquim Ferreira não se definiu apenas por sucessos individuais. No início de 1962, participou no triunfo leonino no Grande Prémio Internacional de Madrid em Corta Mato, onde foi terceiro classificado individualmente. Mais tarde, contribuiu para um feito coletivo notável: a equipa do Sporting bateu o recorde nacional - e simultaneamente ibérico - da estafeta 4x1500m, com 16m11,6s.
A ligação de Joaquim Ferreira às estafetas era longa. Já em 1956 ajudara a bater o recorde nacional (não homologado) da mesma prova, e entre 1958 e 1964 integrou a equipa que venceu por sete vezes consecutivas a tradicional estafeta Cascais-Lisboa, um feito marcante numa das provas mais emblemáticas do atletismo de estrada nacional.
Nos anos seguintes, continuou a enriquecer o seu palmarés. Em 1997, sagrou-se vice-campeão mundial de veteranos nos 2000m obstáculos e nos 1500 metros. No Europeu de 1998, voltou a conquistar a medalha de prata nos 2000m obstáculos, confirmando uma longevidade competitiva verdadeiramente rara.
A história de Joaquim Ferreira é a de um atleta fiel ao seu Clube, disciplinado no treino, resiliente na competição e humilde nas conquistas. Foi protagonista de transições históricas dentro do atletismo português, símbolo da pujança do Sporting nas décadas de 50 e 60, e inspiração para gerações futuras, dentro e fora da pista.
Leões começam em grande e dão, dessa forma, mais um motivo de orgulho aos Adeptos, que têm mais razões para sorrir e para apoiar o Clube
|
Corria o início de 1985 quando um grupo de Sportinguistas apaixonados lançou a semente de uma nova modalidade em Alvalade. A ideia passava por fundar uma secção de futebol de salão no seio do Sporting, numa altura em que a prática ainda não era reconhecida oficialmente pelas entidades federativas. A proposta foi apresentada a 14 de janeiro desse mesmo ano, por quatro nomes que ficariam ligados, indelevelmente, à génese da secção: Melo Bandeira, Cícero Campos, João Pardal e Carlos Vaz. Em tempo recorde, a direção do Clube deu luz verde à criação, aprovando o projeto em 4 de março e revelando-o ao universo leonino a 13 do mesmo mês.
A formalização da secção foi apenas o primeiro capítulo. Seguiu-se a montagem da estrutura técnica e diretiva, com Melo Bandeira a assumir o papel de líder da secção, secundado por Vicente como seccionista. A equipa técnica ficou a cargo de Alfredo Ratão e Cícero Campos, enquanto nomes como João Pardal e Carlos Vaz garantiam a ligação ao espírito fundador. Nos primeiros treinos e convocações, começaram a surgir os jogadores que ficariam para a história como os primeiros a vestir a camisola verde e branca no futsal: Carlos Manuel, João José, Néné, Manelito, Vítor Morais, entre outros.
A 16 de março, os leões realizaram o primeiro treino de captação no Pavilhão de Alvalade. Era necessário construir uma equipa competitiva do zero, e o objetivo era claro: identificar talentos e formar um coletivo coeso. Sem competições oficiais ainda em curso, restava ao Sporting encontrar alternativas para testar o seu potencial. Foi assim que surgiu a oportunidade de participar no Torneio da Primavera, uma prova informal que se revelaria o primeiro palco competitivo da nova secção.
Foi precisamente nesse torneio que o Sporting se estreou em campo, a 13 de abril de 1985, frente ao Académico Clube de Sacavém. Na quadra do Campo de Ourique, os leões venceram por 3-1, dando o pontapé de saída numa caminhada repleta de conquistas. Este encontro não só marcou o nascimento competitivo da equipa, como também deu um sinal claro do que estaria para vir: um Sporting ambicioso, organizado e com um modelo de jogo já bem delineado.
Enquanto os regulamentos da modalidade ainda estavam por definir, o clube assumia um papel de pioneirismo. A primeira competição oficial organizada pela Associação de Futebol de Lisboa, o Campeonato Distrital de Seniores, só começaria na época seguinte, e o Sporting já partia em vantagem, com uma base montada e uma cultura desportiva em formação. Esse impulso inicial foi essencial para o desenvolvimento da modalidade em Portugal, e o contributo dos leões para a sua institucionalização é inegável.
A segunda versão da equipa, apresentada também em março de 1985, mostrava já alguma maturação e profundidade. Figuras como Jorge Correia (guarda-redes), Palma, Morgado ou Valdemar reforçaram um plantel em crescimento, mantendo-se a mesma base diretiva e técnica. O Sporting tornava-se não só numa equipa pronta a competir, mas também num polo estruturado de desenvolvimento da modalidade, com processos de treino, captação e gestão já bastante definidos para a época.
Hoje, com dezenas de troféus conquistados e uma das melhores equipas da Europa, o futsal do Sporting é símbolo de excelência. A recente conquista da Taça de Portugal pelos comandados de Nuno Dias, diante do Benfica, por 4-3, é só mais um exemplo do domínio interno que é, também, reflexo direto do espírito de 1985.