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Histórias do Leão
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No dia 7 de maio de 1995, em Alvalade, a uma hora e meia de começar o jogo que podia decidir o título, dezenas de adeptos que já estavam dentro do recinto deslocaram-se até ao varandim (ao lado da porta 12-A) para pressionar o adversário Porto, que chegava de autocarro nesse momento. Uma prática que era muito comum e até acompanhada por seguranças para evitar excessos, acabou por se tornar numa tragédia. Algo não correu bem e a estrutura não aguentou, o que resultou na morte de dois Adeptos Sportinguistas.
O primeiro a tentar socorrer os feridos foi Domingo Gomes, médico conhecido do Porto. Com toda a inquietação e confusão do momento, alguns Adeptos ainda atiraram pedras ao médico dos dragões, que tentava ajudar a resolver parte da situação. Os números contam que mais de 20 feridos foram transportados para os hospitais que se encontravam nas proximidades do (antigo) Estádio José Alvalade.
No autocarro do Sporting, ainda na A5 a caminho do estádio, a notícia já chegava e criava uma tal agitação, que acabou por culminar em muitas lágrimas quando os jogadores chegaram ao local (pela porta 10-A) e se depararam com o ocorrido. Mesmo assim, as equipas foram para campo e nem sequer se realizou o minuto de silêncio habitual em relação ao que se tinha passado minutos antes, apesar de serem várias tarjas negras na Curva Sul e outras tarjas invertidas na bancada onde se encontravam os Super Dragões.
Domingos Paciência, avançado do Porto que marcou o único golo da partida (58’), através de uma grande penalidade, não só deu a vitória aos dragões, como também deu o título de campeão nacional. Ainda assim, o avançado revelou, mais tarde, que a par de uma deslocação a Aveiro depois da morte de um ex-colega (Rui Filipe), em 1994, este foi, sem dúvida, o jogo mais difícil de disputar da sua carreira.
José Gonçalves e Paulo Ferreira, conhecidos como Zé e Paulo pela Juventude Leonina, são recordados até hoje com pesar, na memória de todos os adeptos Sportinguistas. No dia do funeral, as ruas estavam cheias desde a igreja de Arroios até ao cemitério do Alto de São João.
O dia 7 de maio fica marcado como o ‘Dia do Leão’, no qual o Sporting recorda e homenageia os Adeptos que partiram de Leão ao peito, onde também se inclui Rui Mendes, o adepto que faleceu na final da Taça de 1996, contra o Benfica, depois de ter sido atingido por um very-light.
Nos dias de hoje, Frederico Varandas, Presidente do Sporting, continua a prestar homenagem a Zé e Paulo, no ‘Dia do Leão’. Os falecidos adeptos continuam a ser recordados todos os anos na Praça Centenário junto ao Monumento ao Adepto pela Direção e atletas do Clube e também por elementos das claques. Durante as anteriores Presidências, este dia foi, também, sempre muito simbólico para o Clube. Algo recorrente em todas as direções do Sporting, que vai sempre marcar a memória de todos os adeptos Sportinguistas.
Equipa verde e branca viu a conquista do título ser consumada 'no sofá', sem precisarem de ir novamente a jogo, isto depois dos encarnados terem facilitado
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Enquanto Lisboa se recolhia num domingo de esperança contida, o grupo de trabalho do Sporting reunia-se para jantar em Alvalade. O ambiente era tranquilo, sem euforia antecipada. Se o Benfica ganhasse, a festa ficaria adiada para o fim de semana seguinte, para o jogo com o Estoril. Os rivais encarnados, ainda assim, facilitaram e a história começou a escrever-se no dia 5 do mesmo mês. O Famalicão bateu o conjunto orientado por Roger Schmidt por 2-0 e, de forma matemática, tínhamos novo campeão nacional.
As ruas vestiram-se de verde e branco num ápice. Em Lisboa, em todo o país, e nas comunidades Sportinguistas espalhadas pelo globo, iniciou-se uma celebração orgulhosa e emotiva e Alvalade transformou-se num ponto de partida. O autocarro levou o plantel para o epicentro simbólico da vitória: o Marquês de Pombal.
Mas, antes disso, no Hall VIP do reduto do leão, ouviram-se as primeiras palavras de um título suado, celebrado com alma. Ruben Amorim, visivelmente feliz, rejeitou qualquer tipo de relativização do feito: "É uma felicidade enorme vencer este título. É especial? Sim, porque no primeiro disseram que foi um campeonato atípico, sem público e competições europeias, mas desta vez houve tudo e conseguimos".
Sebastián Coates, capitão e símbolo de liderança, fez questão de dividir os louros: “Este título é mérito nosso. Dedico este título a toda a equipa, às nossas famílias e aos adeptos, que nos apoiaram sempre". Viktor Gyokeres, autor de uma época memorável e de momentos decisivos, revelou-se ainda em êxtase: “É o meu 1.º título, ainda não acredito. Estou com arrepios… Adoro estar no Sporting".
Na avenida da glória leonina, sob uma noite que parecia não ter fim, Ruben Amorim voltou a surgir, desta vez perante uma multidão em êxtase. A emoção do técnico foi evidente e a esta juntou-se a ironia afiada, ao recordar a recente viagem a Inglaterra, para ouvir a proposta de um outro clube: "Malta, vamos despachar isto que tenho um avião para amanhã bem cedo para apanhar. Se calhar é muito cedo para esta piada. Tinha-a preparada".
Mas o tom rapidamente se tornou de gratidão. Amorim fez questão de homenagear os “invisíveis” do clube: “Queria aproveitar para falar de pessoas que não têm tanta expressão mediática como nós... roupeiros, massagistas... palmas para o nosso staff". De seguida, o agora treinador do Machester United atirou uma mensagem que soou a desafio, mas também como promessa: "Diziam que só éramos campeões de 18 em 18 anos... vamos ver".
Cantora que interpretou a 'Marcha do Sporting' dedicou a sua vida à musica e ao Clube de Alvalade, os seus dois grandes amores
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Nascida a 6 de maio de 1933, Maria José Valério foi uma conhecida artista e cantora portuguesa. Para muitos, é conhecida pela sua dedicação ao Clube de Alvalade e por ser a voz da mítica canção que entoa cada vez que os leões entram em campo, seja em que modalidade for: a 'Marcha do Sporting'.
Natural da Amadora, Maria José Valério teve uma presença artística muito presente na sua infância, visto que era sobrinha do maestro e fadista Frederico Valério. Começou a cantar aos 17 anos de idade pelos microfones da Emissora Nacional, onde anos mais tarde, em 1952, passou a fazer parto do elenco habitual de cantores.
Com este moderado sucesso, Maria José Valério começou a gravar com o seu tio, Frederico Valério, que a encaminhou para um estilo musical diferente. Com um reinventar artístico, mostrou-se no seio do seu Clube de coração, o Sporting, ao apresentar-se numa festa organizada pelos leões, no Pavilhão dos Desportos, atualmente Pavilhão Carlos Lopes.
Em 1960 e já conhecida por alguns dos Adeptos Sportinguistas, Maria José Valério foi convidada para ser a voz de uma música de apoio ao Clube de Alvalade, que tinha letra de Eduardo Damas e composição de Manuel Paião: a 'Marcha do Sporting', com gravação da Valentim de Carvalho. Com este tema, Maria José Valério ingressou no mundo do teatro de revista à portuguesa, com passagens pelo Parque Mayer, Teatro Variedades e em diversas companhias de teatro.
O seu maior sucesso viria mais tarde e através de um tema que já tinha gravado décadas atrás. O Sporting sagrou-se campeão na temporada 1999/00, terminando um jejum de títulos de 18 anos. Com a recente conquista, a Valentim de Carvalho tomou a decisão de reeditar a “Marcha do Sporting” como single e a música foi adotada como um hino do Clube, sendo tocada no início de cada partida de futebol e modalidades. Em formato single, a “Marcha do Sporting” chegou mesmo ao número das tabelas de vendas portuguesas.
O seu importante papel como a voz de todos os Adeptos Sportinguistas não passou despercebida. Em 2004, a cantora foi condecorada com a medalha de grau de ouro de Mérito da Cidade de Lisboa, atribuída pelo município da capital portuguesa e no seio do Sporting foi distinguida com o Prémio Stromp, na categoria Especial.
Infelizmente, Maria José Valério morreu no dia 3 de março de 2021, com 87 anos, vítima de covid-19, no Hospital Santa Maria, apenas dois meses antes do seu querido Sporting conquistar o 22.º campeonato nacional na sua história. Nos dias de hoje, a cantora continua a não ser esquecida, visto que o seu maior êxito dedicado ao Clube continua a ser entoado no Estádio José Alvalade e no Pavilhão João Rocha em cada jogo.
Ex jogador natural de Palmela representou o Clube de Alvalade em diversas funções, mas nunca reuniu as melhores opiniões dentro do seio Sportinguista
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Nascido a 6 de maio de 1949, Octávio Machado representou o Sporting em diversos cargos, nomeadamente, treinador, treinador adjunto e diretor de equipa. Somando todo o seu percurso por Alvalade, o palmelense representou o Clube por cinco temporadas, tendo conquistado duas Supertaças Cândido de Oliveira.
Desde cedo que Octávio Machado fez parte do mundo do futebol. Como jogador, começou o seu percurso ao serviço da equipa de juniores da sua terra natal, o Palmelense, na temporada 1965/66. Nas camadas de formação fez duas épocas e, em 1967, estreou-se como sénior na equipa principal do clube e rapidamente chamou as atenções de um clube vizinho: o Vitória de Setúbal.
Octávio Machado representou os setubalenses por sete temporadas, entre 1968/69 e 1974/75, onde foi uma das principais figuras do plantel. As suas boas exibições motivaram, mais tarde, o interesse de um dos maiores emblemas do futebol nacional, o Porto. A experiência no Norte do país estava a dar frutos, mas nas últimas duas temporadas foi aposta menos frequente, apenas realizando sete partidas em dois anos. Machado regressou ao Vitória de Setúbal em 1980/81, onde jogou mais três anos, até acabar a sua carreira, em 1983.
Com o final da sua carreira de futebolista, Octávio Machado ingressou no Salgueiros, desta vez como treinador, e após uma época de moderado sucesso, o técnico abraçou um projeto no Porto, como treinador-adjunto, onde representou os azuis e brancos por oito temporadas, entre 1984/85 e 1991/92.
Depois de uma breve paragem na sua carreira, Octávio Machado foi contratado como treinador principal do Sporting, pelo então Presidente, Pedro Santana Lopes. Já na época seguinte, o natural de Palmela assumiu a função de adjunto da equipa técnica liderada por Robert Waseige, mas a meio da temporada 1996/97 foi de novo treinador principal, após a saída do técnico belga.
Na temporada seguinte, o projeto de Octávio Machado não correu de feição, visto que o treinador saiu no decorrer da temporada 1997/98, após um empate contra a equipa do Varzim, por 1-1. Em relação ao seu desempenho, o técnico comentou: “No Sporting não acabei aquilo que tinha iniciado (...) Quando estive no Sporting, eu devia ter assumido claramente que tinha de ficar.”, revelou em entrevista ao jornal Expresso. As suas declarações ao seminário, tiveram mesmo uma frase forte: “O maior erro da minha carreira foi sair do Sporting”
Octávio Machado realizou mais uma época como treinador, regressando ao emblema do Porto, em 2001/02 e após a temporada, fez uma longa pausa na carreira, que apenas terminou em 2015, na primeira época de Jorge Jesus ao comando da equipa do Sporting. Recém-chegado do Benfica, o técnico português fez um pedido especial a Bruno de Carvalho, para que o palmelense fizesse parte da sua equipa técnica, como diretor desportivo. Machado acabou por sair no final da temporada, em 2016 , após desentendimentos com o então Presidente e desde aí é uma figura presente nos painéis de comentadores em programas televisivos de futebol.