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Augusto Inácio faz revelações sobre título de 2000: "Pessoas a vigiar hotel do Sporting"
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Histórias do Leão
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José Peseiro é um treinador português com uma carreira extensa e marcada por passagens por vários clubes e seleções, tanto em Portugal como no estrangeiro. No Sporting, Clube que orientou por duas ocasiões, sofreu altos e baixos e ficará para sempre lembrado pela final perdida da Taça UEFA, em 2004/05. Mas já lá vamos.
Natural de Coruche, Peseiro começou por treinar o Orientar, o União de Santarém, o Grupo União Sport e, uma vez mais, o Oriental, antes de chegar ao Nacional da Madeira, onde conseguiu fixar-se durante quatro épocas e com bons resultados, de tal forma que foi convidado para ser adjunto de Carlos Queiroz no Real Madrid. Essa breve passagem por um dos maiores clubes do mundo serviu de rampa de lançamento para um percurso sinuoso e algo alucinante.
A chegada ao Sporting aconteceu em 2004, logo depois de ter abandonado o Bernabéu. Deu-se numa fase de renovação do Clube, tendo sido a escolha para substituir Fernando Santos, e rapidamente imprimiu uma identidade ofensiva à equipa, montando um conjunto com talento e ambição. Logo na primeira época em Alvalade, e apesar de um desapontante 3.º lugar no campeonato e de uma chegada aos oitavos de final da Taça de Portugal, orientou os leões numa caminhada histórica na Taça UEFA.
Depois de eliminar Feynoord, Middlesbrough, Newcastle e AZ Alkmaar - com Miguel Garcia como herói -, o Sporting chegou à grande final e encontrou os russos do CSKA Moscovo, precisamente em casa, no Estádio José Alvalade. O percurso memorável até este derradeiro jogo não se traduziu num título, até porque os leões não foram além de um 3-1. Os maus resultados internos não foram, assim sendo, anulados pela campanha europeia e Peseiro seguiu para a segunda temporada num clima de desconfiança por parte dos adeptos.
Em 2005/06, o Sporting foi cedo eliminado da Liga dos Campeões e, mais tarde, da Liga Europa, não tendo passado, sequer, da primeira ronda. Em 11 jogos, Peseiro contava apenas com cinco triunfos e foi incapaz de evitar assim o despedimento, logo no mês de outubro. O homem escolhido para suceder no cargo foi Paulo Bento, valendo a pena recordar que este se manteve em Alvalade por quatro épocas e meia.
Após sair do Sporting, Peseiro continuou a sua carreira no Al Hilal e, mais tarde, no Panathinaikos. Acabou escolhido para orientar a seleção da Arábia Saudita, onde se manteve por três épocas, e em 2012 voltou a Portugal pelas mãos do Sporting de Braga. No emblema minhoto, fez uma primeira passagem discreta e voltou para o estrangeiro, para comandar o Al Wahda e o Al Ahly.
Em terras lusas, ainda passou pelo Porto e pelo Braga, uma vez mais, e depois de um ano pelo Vitória SC regressou ao Sporting. Sousa Cintra, que havia sido anunciado Presidente da SAD em julho de 2018, escolheu Peseiro para ultrapassar a grave crise de resultados de 2018, isto numa altura em que muitos treinadores recusaram o desafio. Frederico Varandas, que acabou eleito em novembro do mesmo ano, despediu o técnico após a derrota diante do Estoril, para a Taça da Liga.
Novamente longe de Portugal, José Peseiro voltou a assumir uma seleção, desta vez a venezuelana, mas sem grande sucesso. Mudou-se para a congénere nigeriana em 2022 e na última época treinou o Zamalek, também sem deslumbrar. Atualmente, encontra-se sem trabalho, mas reconhecido pelo extenso e diferenciado currículo que conta já com duas décadas a atuar ao mais alto nível.
Aquele que é recordado como um dos episódios mais negros da história do futebol português aconteceu no final de competição nacional
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Durante um dérbi intenso entre Benfica e Sporting, no dia 18 de maio de 1996, Rui Mendes, Adepto Leonino morreu depois de ser atingido por um very-light, que foi lançado por Hugo Inácio, apoiante do clube da Luz. O episódio continua a ser lembrado com muito pesar.
A equipa de Octávio Machado alinhava com Costinha, Luís Miguel, Naybet, Marco Aurélio, Nélson, Luís Vidigal, Pedro Martins, Emílio Peixe, Afonso Martins, Sá Pinto e Iordanov. Já o conjunto encarnado, liderado pelo técnico Mário Wilson, entrou em campo com Preud’homme, Ricardo Gomes, Hélder Cristóvão, Dimas, Kenedy, Calado, Paulo Bento, Bruno Caires, Valdo, Mauro Airez e João Vieira Pinto.
O primeiro e mais marcante momento do jogo foi aos nove minutos, quando Mauro Airez faz o primeiro para os encarnados, foi aí que tudo começou. Durante os festejos do remate certeiro, Hugo Inácio, adepto do Benfica, atirou um very-light para a bancada sul do estádio e atingiu mortalmente Rui Mendes, adepto de 36 anos do Sporting.
Com toda esta tragédia que contava com a inquietação nas bancadas, o jogo seguiu e João Vieira Pinto fez o 2-0 para as águias, jogador que viria a bisar aos 67’ da partida. O único golo dos leões surge aos 83’, através de uma grande penalidade efetuada com sucesso por Carlos Xavier.
A verdade é que o Benfica acaba o jogo a levantar o título mais negro da sua história, depois de ter visto um adepto do Sporting a morrer em pleno jogo. O resultado foi o que menos importou nesse dia e a prova disso é que este momento permanece nas memórias de todos até hoje. Na altura, os leões arrecadaram integralmente com os custos do funeral de Rui Mendes.
O homem responsável pela tragédia, Hugo Inácio, é um adepto do Benfica que, em 1998 foi condenado a quatro anos de prisão, mas conseguiu fugir em 2000, tendo sido capturado em 2011. Voltou a ser julgado em 2016, depois de desobedecer a uma pena do tribunal, recebendo mais três anos de cadeia e a proibição de entrar em recintos desportivos durante sete anos, por posse de material pirotécnico. No entanto, em 2018, voltou a ser detido em pleno Estádio da Luz.
Acontecimentos do dia 15 de maio de 2018 chocaram o mundo do futebol, num momento que marcou gravemente o passado recente dos leões
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A invasão à Academia de Alcochete foi, provavelmente, o episódio mais negro da longa história do Sporting, quando no dia 15 de maio de 2018, cerca de quarenta indivíduos entraram no centro de estágios do Clube e espalharam terror e violência dirigidos aos jogadores, treinadores e dirigentes do emblema ao qual são afetos.
O Sporting deslocou-se ao terreno do Marítimo em encontro da última jornada do campeonato, no dia 13 de maio, dependendo apenas de si para assegurar o segundo lugar e a Liga dos Campeões da próxima temporada. A partida foi extremamente negativa e não podia ter terminado da pior forma. Já em tempo de compensação, Rui Patrício deixou passar uma remate que não apresentava nenhum perigo para a sua baliza. Lentamente, a bola entrou e a equipa madeirense venceu o jogo por 2-1.
O desagrado das bancadas sentiu-se logo após o apito final no Estádio dos Barreiros. Os adeptos mostraram um alto tom de agressividade para com a equipa do Sporting e, conhecido por não virar a cara à luta, Marcos Acuña foi tirar justificações aos mesmos, o que apenas agravou o estado dos ‘ultras’. Mesmo fora do estádio, o clima manteve-se: os jogadores e técnicos leoninos foram insultados, de forma violenta, na sua viagem para o aeroporto e também na sua chegada ao Estádio José Alvalade.
O Sporting regressou aos trabalhos na terça-feira, dia 15 de maio, e enquanto decorriam os preparativos para iniciar uma sessão de treinos, um grupo de cerca de 40 adeptos insatisfeitos tomou a Academia de Alcochete de assalto, agredindo jogadores e treinadores com uma panóplia de objetos como cintos ou pirotecnia, deixando os balneários como um autêntico cenário de guerra.
Muitos foram os visados deste ataque, mas talvez um dos maiores casos de destaque tenha sido o de Bas Dost. O avançado holandês foi atirado ao chão e agredido com pontapés e cintos na cabeça, para além de ter ficado com ferimentos nas pernas. No final deste episódio, 23 dos atacantes foram detidos nas imediações da Academia, enquanto tentavam fugir.
A equipa do Sporting ainda jogou a final da Taça de Portugal, com muitos atletas a serem o rosto da violência: Bas Dost jogou com um penso na cabeça e Jorge Jesus estava maquilhado, visto ainda ter marcas no rosto, depois de ter sido agredido à cabeçada. Quando o árbitro apitou, os leões saíram derrotados do Estádio do Jamor por 2-1, iniciando-se assim, um período de rescisões com justa causa.
Algum tempo passou desde a final perdida e, no dia 1 de junho, Rui Patrício foi o primeiro jogador a rescindir com o Sporting alegando justa causa, juntando-se a ele nomes como Daniel Podence, Gelson Martins, William Carvalho, Rafael Leão e Rúben Ribeiro. Outros jogadores como Rodrigo Battaglia, Bruno Fernandes e Bas Dost também rescindiram, mas acabaram por acertar, mais tarde, a permanência no Clube de Alvalade.
Já no campo da justiça, o então presidente Bruno de Carvalho foi detido e investigado por ser, alegadamente, o autor moral do ataque, sendo indicado por 56 crimes e constituído arguido. O julgamento apenas começou em novembro do mesmo ano e, no final do mesmo, o dirigente máximo do Sporting foi ilibado das suas acusações, Dos outros 44 indivíduos julgados, apenas nove foram condenados a prisão, com três a serem punidos com multa. Os restantes 29 ficaram com pena suspensa.
Após vencer o Salgueiros por 4-0, o Clube de Alvalade venceu o seu 21.º Campeonato Nacional após um jejum de 18 anos, o que tornou as celebrações mais efusivas
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A festa do 21.º Campeonato Nacional do palmarés do Sporting foi inesquecível. Após a deslocação dos leões à cidade do Porto para derrotar o Salgueiros por 4-0, no dia 14 de maio de 2000, o clima em Lisboa era de euforia, com os Sportinguistas a tomarem as ruas.
Os Adeptos não esquecem o ambiente de festa que se viveu na cidade lisboeta, após o apito final do árbitro no Estádio Vidal Pinheiro e, ao que parece, os antigos jogadores do Sporting também não, em declarações feitas por alguns dos campeões ao jornal Record.
“A viagem parecia que eram só pessoas a apitar e adeptos eufóricos. Foi uma festa até chegar ao Estádio José Alvalade. Foi uma coisa que até hoje me lembro e fico arrepiado. Sinto-me como se tivesse sido ontem”, revelou o antigo capitão de equipa. Para terminar, Iordanov declarou o seu amor ao Clube: “Posso sair do Sporting, mas o Sporting nunca sai do meu coração”.
O central brasileiro apenas chegou no decorrer da temporada, mas isso não manchou de nenhuma forma o sentimento do defesa: "A festa foi marcante, mas só tive a real noção do que atingimos no dia seguinte, quando estava em casa a beber café e liguei a televisão. Em todos os canais passavam reportagens de todos os cantos de Portugal e do estrangeiro foi nesse momento que interiorizei a importância do título que alcançámos... aquelas festas dos adeptos foram momentos que marcaram e recordo até hoje”.
Com a chegada de Peter Schmeichel, o guardião luso ficou em segundo na corrida à baliza do Sporting e recordou a felicidade do seu companheiro dinamarquês: “Memórias? Guardo sempre a imagem de ver um Peter Schmeichel que tinha sido campeão europeu e ver a alegria dele. E o que significou para ele ser campeão no Sporting! Parecia um menino. Isso marcou-me. Sempre fui próximo dele e sabia da vontade que tinha em ser campeão”.
O espanhol foi suplente na partida contra o Salgueiros, mas isso não impediu o jogador de sentir o sabor da vitória tanto quanto os seus companheiros de equipa e recordou ainda a receção da equipa no estádio: “Alvalade estava a rebentar. Chamavam um por um aos jogadores e estávamos tão ansiosos que não deixámos que o speaker chamasse todos e estávamos impacientes. Entrámos todos de uma só vez. O pessoal todo a entrar no relvado. E quando colocámos o cachecol na estátua”.
O antigo jogador argentino do Sporting revelou que esteve até bastante calmo no Estádio Vidal Pinheiro, mas quando a equipa regressou ao balneário para celebrar, a história foi diferente: “O que me marcou? Foi tudo! O festejo no balneário com o presidente Roquette a celebrar muito e a equipa técnica. A partir daí, já sabia que o caminho ia ser longo e estava completo. Íamos muito devagar, porque era muita gente no caminho. Estava uma loucura enorme. Nunca tinha visto algo assim”.